terça-feira, 27 de outubro de 2015

DEVORADORES

Criação, Manutenção e Destruição são aspectos evidenciadores da transitoriedade de tudo.

Cria-se algo, este mantém um período de identificação e estabilidade com o criador e, ao longo do tempo, vai construindo a sua própria identidade. A construção de uma identidade própria é a destruição dos parâmetros ou limites do criador/mestre/líder/pai/mãe.

Zeus, ainda criança e desprovido de personalidade própria, foi devorado por Cronos, contudo, quando aquele tornou-se senhor de seu destino, deixou de copiar ou manter o status quo deste para enfim ser o criador de si mesmo e transcender a digestão paterna. Logo, a destruição de qualquer autoridade externa é elemento indispensável à independência de um membro do Olimpo.

São Olímpicos aqueles que aceitaram a trindade criação-manutenção-destruição. Esses 3 aspectos são inevitáveis, cíclicos, sucessivos. Com efeito, um criador/mestre/líder/pai/mãe que se ressente da independência alheia é um fraco, mortal, não se renova e, de fato, apodrece.

Ver a destruição de uma relação hierárquica ou a afirmação de um ser deve ser motivo de orgulho para aquele que recebeu de braços abertos a transitoriedade da vida e, por isso mesmo, se tornou imortal ao não estar condicionado à algo externo, nem mesmo à sua própria criação. Zeus percebeu tudo isso e venceu o tempo, não engaiolou pássaros e nem colheu flores.

Ó mortal, o tempo tem devorado com ferocidade um caminho que é único e só teu: A Eternidade. Somente tu sabes onde ela está...

Peter Paul Rubens: Saturno devorando seu filho, 1636.




Francisco de Goya: Saturno devorando um filho, 1823.



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