quinta-feira, 12 de março de 2015

UM AMANTE DA HUMANIDADE

Criança eu ainda era e já escutava que sou exagerado, floreador, poeta. E hoje, nesse momento, reconheço, assim eu sou! Preciso. Necessitamos disso. 

Convivi com alguns seres humanos que a maioria das pessoas os taxariam de ladrões, mentirosos, safados, egoístas e toda espécie ruim que se pode catalogar em um conjunto de palavras pejorativas, contudo, após duros enfrentamentos e pedidos para O Arquiteto diminuir tais criaturas em minha vida, elas vinham aumentando, por fim, desisti, resolvi que deveria mudar o foco do meu olhar sempre pronto à julgar e condenar, então após muitas resistências e atritos percebi que deveria aceitar as pessoas como são e procurar sempre e sempre o seu lado florido e belo. Nessa busca acabei encontrando o meu próprio lado florido e belo,  um luminoso jardim. Descobri apanhando muito que atrás de todo ódio e agressividade e corrupção se esconde a carência de amor.

E esse vácuo negro profundo é, em verdade, lindo quando se olha docemente. Pois no final tudo é ou não é conforme a intensidades de vibração do amor presente em cada um... Só o amor nos torna amáveis e capazes de amar. Ódio com mais amor é amor. Ódio com mais ódio é muito ódio. 

Parar de correr daqueles a quem eu julgava deu fôlego para o meu coração e abertura para um abraço.

Depois de muito ver demônios, percebi que era o meu olhar julgador que os carregava. Anjos só habitam em doces olhos...

O amor tudo aceita, preserva e pacifica. Somente um insano combate aquilo que o próprio Deus e Pai de todo Bem não resolveu exterminar por respeito e amor. 

Deus é poeta. O Pai de todas as metáforas desse mundo escreve como horror as verdades mais belas, pois o assombro alarga nossa estreita compreensão e chama a nossa atenção para algo assustador: todas as coisas são infinitas! E a poesia é uma infinita delicadeza divina para uma crueldade humana óbvia e diária. 

Esse é  o tortuoso caminho: Amar (a)o infinito.




quinta-feira, 5 de março de 2015

OS MARES

À sombra do Grande, meus olhos abri
Iluminou-me a tua simples existência
sendo um Jardim da vida em essência
nos teus trabalhos, descansei e revivi 

Indico, pacífico, atlântica marca
Confiante, eu navego uma arca 
de um nome com os mares 
e cantares de cores e flores 

Patriarca 
Pajé
Patriarca
Paié 

Ah, os mares em mim

Patriarca
Pajé 
Patriarca
Paié 

Há os mares em mim







segunda-feira, 2 de março de 2015

A TRILHA DO UM

"A sociedade é sempre patriarcal.
A natureza é sempre matrilinear.
E o que é uma mulher? A mulher
é um condutor de vida, é a vida. 
E o homem é o servidor da vida."
-Joseph Campbell- 

Apenas mais uma trilha única até o Único.

Um espírito masculino sempre acaba indo muito longe para conquistar algo novo. Mas é um aspecto feminino que dá sustentação e contentamento, informa o que tu és e o valor de uma existência, deixando marcas no caminho para que então seja possível voltar para casa.

Amazonas, para o chão. 

Os significados de “chão” são tão belos! Amazonas, encontro dos rios Negro e Solimões, uma representação completa da fusão de dois em um, como a de um Yin-Yang. Amazonas, o desvelar de uma missão nessa vida. 

Amazonas, um rito de iniciação profundo encontrou uma materialização. Em um acentuado contraste, a lição foi sobre Respeitar o outro, esse é o Conteúdo. Como é doloroso começar a ver o outro lado com doçura. Isso te rompe como a separação do recém-nascido. Com o sofrimento, o aprendizado torna-se profundo e a cicatriz - com sabedoria ou com o tempo- é vista com carinho: nós, todos iguais e seguindo um único movimento com diversas facetas. 

Amazonas, um Yin social predominante ensinou mais uma vez sobre o conteúdo: amor e fraternidade. O olhar sereno e receptivo e, ao mesmo tempo, voluptuoso do feminino. Essa definida beleza é algo que logo causa em qualquer um que ali deite sua vida. A lição foi transmitida de maneira tão profunda que não foi possível refutar nada, apenas me oferecer. Então, na simplicidade e humildade e gentileza, percebe-se o desvio do mundo ao reverenciar apenas as qualidades masculinas com tanta servidão e opulência. 

E se ao menos um homem e uma mulher valorizassem as virtudes femininas como fazem com o viril e o masculino? E se ao menos um homem e uma mulher não esquecessem as qualidades típicas do Yin: a Deusa, o mundo do pequeno, o detalhe, o profundo, a estabilidade, a consolidação, a segurança, a força centrípeta, a receptividade, a docência, a docilidade, a delicadeza, o mistério, a floresta? 

E se ao menos um homem reparasse em como é simbólico saber que Sócrates aprendeu sobre o amor com um ser divino de natureza feminina, em como é recorrente nos grandes romances a busca dos homens por sua subjetividade doce e receptiva? E se ao menos um homem descobrisse que grandes livros, músicas, bandas com seus astros cabeludos ou até andrógenos, obras de arte em geral e algumas religiões estão apontando para uma Deusa esquecida e renegada que habita o seu interior? E se alguém descobrisse esse mistério: o feminino é o mais próximo do amor e nos resgata da animalidade? E se ao menos um homem desvendasse a sua parte feminina que está em seu íntimo e esperando para finalmente despertar? E se não houvesse a ignorância afirmando que acordá-la significa se tornar homossexual? E se ao menos um homem não maculasse as virtudes femininas como fraqueza, passividade, drama, perversão, maldade, bruxaria? E se ao menos um homem soubesse que se relacionar bem com sua própria feminilidade é a fonte de dar e receber uma inesgotável alegria? E se os homens não precisassem apanhar tanto para aprenderem a ser flexíveis? 

E se ao menos uma mulher se lembrasse das suas arquetípicas virtudes e que o equilíbrio do mundo depende delas e, atualmente, ele está perdido na reverência somente do masculino? E, o mais importante, se ao menos uma mulher não precisasse exageradamente se masculinizar em busca de respeito social, negando artificialmente seu próprio arquétipo corporal e psíquico feminino? 

E se a cultura e as religiões patriarcais não condenassem a mãe natureza? Será que, no equilíbrio masculino-feminino, a terra e a natureza deixariam de ser um empreendimento, uma empresa, onde tudo existe para ser conquistado, rapinado, subjugado, transformado em massificadas cidades? Não seria essa a nossa cura? 

Damas e Cavalheiros, a sua Rainha e Senhora também protagonista de toda criação espera despertar em um gesto delicado e amável!

Rio de Janeiro, para o céu. 

Rio de Janeiro, a Forma, lição de Independência. A continuidade do aprendizado do Amazonas não poderia ser tão bem talhada e exemplificada pelo Yang que é o Rio de Janeiro. Esse aspecto masculino disse sobre a importância do recipiente, ilustrou sobre elevar a cabeça para o céu, ver o Cristo lá no alto, ter postura corporal, manter a compostura ainda que por dentro esteja tudo estilhaçado, porque as coisas passam e logo vem uma sintonia cheia de alegria. Então, ainda que aparentemente não esteja, seja grande, seja inteiro, seja aquilo que você é, olhe para cima, mantenha o nariz empinado, sustente ao menos a forma, a elegância, o aspecto, pois não se segura um conteúdo sem isso.

Perambular! Havia grande alegria quando parti de Goiás realizando o sonho do primeiro emprego. Agora, esse sentimento se transformou em algo muito maior: contentamento do qual o coração está transbordando. Já são 2 anos e 6 meses longe do clã primitivo. A hora chegou! Retorno bem mais envelhecido que esse ínfimo tempo fora. Estou mais inteiro, humano, feliz por estar envelhecendo. Aprendi a amar o Rio de Janeiro e o Amazonas. Logo, tenho olhos novos para as belezas sutis de Goiás e que não via e não reparava. Ganhei língua mais doce e instrutiva. Recebi novas mãos para trabalhar em minhas origens.

Ganhei o mundo como casa. Essa diversidade foi digerida à custa de fogo para a minha transmutação interior. Experimentei a dualidade decorrente do tempo e da razão, e soube que ainda tenho uma grande parte dessa peleja pela frente. Vi uma mácula na carne e no espírito de muitos:o poder do dinheiro sobre a fraqueza humana. Não sabia da utilidade desses sofrimentos e nem da importância no meu despertar, até que em um belo dia de sol descobri que tudo coopera para o bem. No fim, essas ilusões minhas de julgar os outros em breve se dissolverá na perfeição do Uno que tudo habita. Que nós todos despertemos ainda nessa existência!

Esse parágrafo aparentemente é um paradoxo: Independente do mundo ou do externo, o meu interior sempre estará no alinhamento do Eterno. O desenvolvimento espiritual passa pelo desapego da matéria, pela diminuição do ego e da necessidade de controle. A matéria ou natureza é minha irmã, cuidarei do seu desenvolvimento sem lamentações e com alegria e amor, sempre lembrando que o Essencial não pertence ao pó. Desse mundo cheio de tributos e sede, em breve partirei remido, deixando através de minhas obras o amor que, ainda em vida, redime do tempo e da morte. Ignoro e nunca saberei exatamente qual é a direção do caminho, só sinto a sua correção. No peito a lúcida certeza que a obra de arte é coletiva. Portanto, tudo o que emanar de minhas mãos e boca deverá conscientemente servir para o engrandecimento de meus irmãos, como todo e qualquer ato deles, ainda que inconsciente, são instruções.

Os gêmeos amor e dor me constrangem sempre para lugares elevados e indescritíveis, impregnam a alma com a consciência de que eu não teria movimento de ascensão sem as pessoas que pousam em minha curta passagem nesse mundo. A dor é para o desapego do ego, da matéria, do tempo e espaço; o amor é o sentimento do infinito e eterno. Quando o conteúdo inconsciente esquecido se apresenta e vai clareando, vivifica-se cada vez mais intensamente essa bela experiência de existir.

Sobre os três gigantes: a família, os amigos e a religião. Apesar de não ser necessária, a distância temporária deles facilita na procura do seu próprio caminho. Fica mais fácil separar o que é seu e o que é só dessa trinca. Então, a sua própria trilha mostra que o profundo e eterno amor que sentes por eles, não significa segui-los ou acreditar em alguns dos seus dogmas e cicatrizes. Por fim, a verdade de que não existe um caminho sequer igual ao outro inunda e liberta tua mente de forma profunda, promovendo uma limpeza de vários conteúdos simplesmente alheios e desnecessários ao desenvolvimento da tua própria singularidade. Nem mesmo um grão de areia é igual ao outro. A diversidade é a marca do universo. A criação é variedade em infinitas perspectivas.

A humildade lecionou em todos os caminhos que passei. Descobri profundamente que a simplicidade é senda única para compreender a si mesmo e, consequentemente, ajudar e amar. A simplicidade é delicada: Vi o simples dar conselhos somente quando provocado. Senti-me protegido e alimentado perto desses. Existem esses mestres, entretanto, não é fácil encontrá-los. Quando conseguimos, raramente percebemos, pois eles estão em um profundo e desprezado silêncio. Lembre-se daqueles que estão em íntima conexão com a natureza. Estes oxigenarão seu espírito. Alegre-se em poder encontrá-los com mais frequência.

Daime, uma marreta celeste que muito marcou minhas mãos agora está também ressoando em minha alma numa batida rítmica e harmoniosa: A sua verdade é um caminhar infinito, vem do Alto, não é popular, não tem valor, é inominável vocação. Ainda estou muitíssimo aquém do ideal: aquele ofício do Olho Doce Único que em tudo vê imediata beleza. Tento manter a intensidade de carregar na alma a profunda e tortuosa busca: Sigo em frente como um desconhecido, singelo e modesto viajante-jardineiro a plantar flores na terra pela qual sangrou...

A caminhada é longa e, aparentemente, confusa. Entretanto, o sincero peregrino perdido em meio às florestas ou à mata de cimento e prédios já está no caminho que leva à bem-aventurança. A experiência fica clara, como o sol de verão do meio-dia em Manaus ou no Rio de Janeiro, quando se olha para trás e descobre-se o quanto a sua história pessoal tem a ensinar sobre o essencial, o começo e o fim de todos.

Quando parti de Goiás, pressenti o revigorante de uma nova e bela aventura, mas, depois de um grande sacrifício, tive que morrer para retornar... 

Oh, agora está entrando a primavera novamente, e uma nova aventura se apresenta para um novo homem!

Aquele menino, que em 2012 partiu de sua primeira casa para a mágica terra dos Gentis, volta um homem. Como aquelas lendárias legiões romanas empunhando espadas para transcender à morte ainda no campo de batalha, em sua alma ecoa com mais intensidade o brado translúcido: FORÇA E HONRA!

Irmãos, obrigado!

Oh, Altíssima, dai-me a sua Força e a sua Luz em meu trabalho...