sábado, 27 de fevereiro de 2016

O ESPELHO QUE CURA

O carinho devocional à Amada
E dela receber NovaMente devoto
Curam todas as feridas da alma

Assim:
Acariciai desde o pé 
Até o fim da cabeça
Beijai sendo o beijo
Tocai sendo o toque

O segredo dessa Alquimia
É não estar oculto
Eis o mapa, vive em ti
Percais-vos na simbologia
Do Um sem um segundo:
A a-têmpora-l do Amor





"Se a amada revela sua beleza, 
torna-te espelho! 
Se ela solta os cabelos, 
torna-te pente!"
__Rumi, POEMAS MÍSTICOS, Editora Attar, p. 116.


sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

ECO E NARCISO: O MUNDO É UM ESPELHO

"Eu não ajo nem faço outros agirem, não experimento e nem faço os outros experimentarem, não vejo nem faço os outros verem. Sou o destruidor de todos os pecados e impurezas. Não tenho outro senhor além de mim mesmo. Sou ao mesmo tempo o fruidor e a coisa usufruída. Nos dias de minha ignorância, costumava pensar nessas coisas como separadas de mim mesmo.
__Adi Shankara, A JÓIA SUPREMA DO DISCERNIMENTO, Editora Pensamento, p. 101-102.



Pintura: Eco e Narciso, 1903
Autor: John William Waterhouse, 1849-1917



"
Não existe nem nascimento nem morte, nem alma limitada ou excelsa, nem alma libertada ou em busca da libertação - esta é a verdade final e absoluta. 

Revelei-te hoje o supremo mistério. Esta é a mais recôndita essência de todo o Vedanta, a joia suprema de todas as escrituras.
"
__Adi Shankara,
 A JÓIA SUPREMA DO DISCERNIMENTO, Editora Pensamento, p. 110.

"O Atman permanece igualmente alheio ao bem e ao mal. (...) Vê Brahman em toda parte, sob todas as circunstâncias, com o olho do espírito e o coração tranquilo."
__Adi Shankara, A JÓIA SUPREMA DO DISCERNIMENTO, Editora Pensamento, p. 102-104.

"Aqueles que aspiram a Realidade deveriam reconhecer e deveriam entender todas as variedades de coisas da mesma forma, portanto, devem eliminar o surgimento de interpretações, que sempre captam apenas alguns aspectos."
__Buda em O SUTRA DO DIAMANTE (Prajnaparamita Vajracchedika Sutra).

"A primeira Iluminação é aquela, semelhante ao raio, que percebe a universalidade e a similitude em todas as coisas. É uma Iluminação sólida e inquebrantável como o diamante."
__Sutra do Caminho da Verdadeira Sabedoria (Adhyardhasatika Prajnaparamita)


"A forma é vazia. A vacuidade é forma.
A forma não é outra que não a vacuidade.
A vacuidade não é outra que não a forma."
__O Sutra do Coração 
(Bagavat Prajnaparamita Hridaia)







"As coisas são vazias porque são desprovidas de substância própria.

As coisas são sem forma porque são desprovidas de uma forma específica.

As coisas são sem objetivo porque são desprovidas de qualquer objetivo especial.

As coisas são luminosas porque sua natureza é a da Perfeição da Sabedoria."
__Sutra do Caminho da Verdadeira Sabedoria (Adhyardhasatika Prajnaparamita)

sábado, 20 de fevereiro de 2016

O PAI DOS POETAS

Ó Kabir, vieste ao mundo pela alta casta brâmane
Desceras à indigência abandonado pela mãe
Até um simples seio árabe dizer 
"Do nosso pouco, podes beber!"
E no útero dessa mesquita, 
Renasceras Cosmopolita

Hindu-muçul-manos
Deles, és um arcano
Do mais alto ao todo inferior foram os caminhos teus
E, em ambos, viras igualdade nessas faces de Deus

Sem sangues, um espírito revela-se universal
Pois, a Real Ascendência é, desta terra, o sal


Kabir
A influência de Adi Shankara (788 - 820 d.C) e da filosofia do Advaita Vedanta sobre Kabir é profunda e latente. Assim, monismo, não-dualidade e igualdade são princípios geradores das obras desses dois grandes luminares da humanidade.

"Por que perguntar ao homem de que casta ele provém? 
O sacerdote, o guerreiro, o comerciante provêm, todos, de Deus

Por que perguntar ao homem a qual casta ele se filia?
O barbeiro, a lavadeira, o carpinteiro são, igualmente, filhos de Deus.

Hindus e muçulmanos destinam-se à mesma meta,
Na qual todos se irmanam, e onde não subsiste nenhuma distinção."
__Kabir


"Vê a loucura do homem:
Na infância ocupado com seus brinquedos 
Na juventude seduzido pelo amor
Na maturidade curvado sob as preocupações

Teu filho pode trazer-te sofrimento
Tua riqueza não te garante o céu
Não te vanglories, pois, de tua riqueza
Nem de tua família, nem da juventude
Todas elas passam, todas hão de mudar
Sabe isso e sê livre

Não busques a paz nem a discórdia 
Com amigos ou parentes
Ó bem-amado, se queres alcançar a liberdade 
Sê igual em tudo"
__Shankara

"O homem contemplativo caminha sozinho. Ele vê Deus em todas as coisas. Tal homem não tem riquezas, mas está sempre contente. É desamparado, mas dotado de grande poder. Não usufrui nada, mas está sempre se regozijando. Não tem igual, mas vê todos os homens como iguais.
__Shankara



EXPLICAÇÕES POPULARES PARA ASSUNTOS INDIZÍVEIS

Em face da indignação e raiva alheia pela diversidade e autonomia, uma boa resposta verdadeira sempre é necessária. Cito dois exemplos de diálogos que encerram rapidamente com a ânsia do interrogante.

1) A Promessa Eterna
-Nossa!! Mas você não come isso?
-Não, fiz uma pequena promessa pra deus.


2) O Remédio Inacabável
-Nossa! Mas você não bebe isso?
-Até bebo, mas tô tomando remédio.

Percebe-se assim que imputar a responsabilidades por nossas atitudes a algum limite externo -deus ou um remédio- é mais útil para apaziguar interrogantes que não acreditariam em questões de consciência.



terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

INDÍCIOS CONTEMPLATIVOS - A CEBOLA

Nada retenhas e não desejes reter os ensinamentos dos filósofos, santos, sábios, profetas e artistas. Somente percebas a necessária educação fundamental sobre o caminho da mística, do esoterismo, do transcendental: uma intensa busca. Sim! Somente a busca deles e a intensidade dela é que podem inspirar ou indicar alguma coisa real.

A intensidade da devoção é uma tensão e intenção bem aplicadas, contudo, a Verdade é ao mesmo tempo o arqueiro, o arco, a flecha e o alvo, logo, ela exige um conhecimento direto e sem intermediários, sem véus.

Todo conhecimento é apenas uma busca e, ao final desta, ele deve ser descamado.





"A forma é vazia. A vacuidade é forma.
A forma não é outra que não a vacuidade.
A vacuidade não é outra que não a forma."
__O Sutra do Coração 
(Bagavat Prajnaparamita Hridaia)

"A Verdade é além da compreensão e inexprimível.
Ela nem é nem não é.
Assim é, portanto, que este Princípio Não-Formulado vem a ser a fundação dos diferentes sistemas de todos as sábios."
__ O Sutra do Diamante 
(Prajnaparamita Vajracchedika Sutra)







sábado, 6 de fevereiro de 2016

SEPPUKU OU HARAKIRI

O Haraquíri era uma cerimônia fúnebre dos Samurais: Uma espécie de suicídio orientado e positivo, uma experiência de Redenção. Símbolo de autocontrole e honra, glória e lealdade. Afinal, era preferível morrer pelo suicídio a viver sem honra.

A morte é positiva e redentora se no momento dela houver paz de espírito. Os Samurais superavam, assim, o medo; este que é o grande opressor da psique humana. Logicamente, somente um Deus não teme a morte.

Muitas vezes, antes de cometer o Seppuku, alguns Samurais escreviam ou declamavam um curto poema...











"MINISTÉRIO DA MORTE
Ó iniciado, aceitai vossas mortes
Elas remirão medos, ansiedades
E, então, não mais descereis
Eis o mistério da verdadeira Vida."
__Glauber Medeiros Rezende


"Redenção é separação e libertação de uma condição anterior de obscuridade e inconsciência, que levam à condição de iluminação e livramento, à vitória e à transcendência sobre todas as coisas 'dadas'."
__Comentários de C. G. Jung, in O LIVRO TIBETANO DOS MORTOS, Editora Pensamento, p. XXXIX.


terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

O ARTISTA

A verdadeira Arte nasce do Coração 
A sua lógica ou razão é a mesma do Sol


A busca individual pela Verdade é a única segurança; o resto é frágil, corruptível e inevitavelmente perecerá neste mundo de geração e morte. Tal afirmativa nasce de minha convicção na existência do Absoluto, que é inominável e inconcebível pelo som, experimento científico, razão ou sentidos. É possível experimentá-lo quando já não diferenciamos mais o sujeito do objeto, ou seja, vivenciando uma unidade perfeita e sem dualidade. Para o Um surgir, dois devem morrer...

Desse modo, haverá imperfeição sempre que a mais excelente e nobre Arte -ou qualquer outro meio de comunicação- tentar transmitir algo incondicionado e irredutível à formas. Ainda assim, a intensidade vibratória da experiência transcendental ou metafísica do artista, quando este transfigura-se em uma harmonia simultânea e indiferenciada entre si mesmo e o objeto, será diretamente proporcional ao nível elevado de verdade ou beleza que ele consegue expressar em referência ao Absoluto. Portanto, os Grandes Artistas, e cada um em seu devido nível, beiram ao Absoluto. Profetizam! Arrebatam!!!

Não pretendo julgar, reter ou modificar alguém com minhas obras. Cada um somente vive aquilo que deseja; pergunta o que quer; e encontra a resposta que está dentro de suas possibilidades física, psíquica e espiritual. Assim, todos estão notavelmente corretos e justificados dentro das margens e pesares em que se autolimitam viver e ver. Inclusive o meu próprio modo de perceber é parcial, certamente.

No caminho da escrita, prefiro poesia à prosa. Pois, esta apresenta uma dificuldade em tocar em assuntos delicados. Já aquela tem uma perspectiva de conto, fábula ou mitológica e, por isso, soa mais agradável para o interlocutor ler ou ouvir esse tipo de expressão musicalizada, ainda que seja um ponto de vista aparentemente antagônico ao dele. 

Os meus escritos em prosa costumam ser mais assertivos e analíticos, naturalmente, e isso causa-me desconforto pois acabam sempre em uma posição polarizada. Em face dessa embaraçosa e sombria dualidade prosaica, creio que o caminho mais glorioso é a escrita poética, pois meu espírito verdadeiramente anseia por desvendar os meios que oprimem e escravizam a humanidade... E isso deve ser feito de modo simples, leve e rápido, porque assim é a vida: um relâmpago na escuridão seguido de um Silêncio! E assim deve ser a escrita da natureza: uma pequena chispa desintegrada no vazio.

Exemplifico com este próprio texto que lês em forma de prosa e que pode pouco se comparado com apenas dois ou três delicados versos dos Grandes Gênios. Com efeito, em face de uma morbidez petrificada ou agressiva, considero ser mais eficaz a mensagem em forma de poesia, a fortiori, concisa e breve como o parzinho de versos supra. Afinal, a força sempre tende a perder para a resistência, como o fogo desembestado de uma grande fogueira e a dureza da pedra facilmente cedem pela calma persistente e curativa da água.

Nesse sentido, compreende-se que a fábula/mito/poesia permite uma camuflagem camaleônica conforme a necessidade do leitor e, ao mesmo tempo, um trabalho mais profundo ao nível da inconsciência, esta que é a mãe de todas as coisas e a origem seminal das mais variadas possibilidades interpretativas.

Logo, percebe-se que os Reais Artistas são dissecadores de si mesmos e, consequentemente, do mundo: o Amor é o seu alimento; a Beleza, o seu alfabeto; o outro é a trindade espelho, verbo e pena; a coragem, o seu papel; o sangue, a sua tinta; a chama no meio e acima do atrito, a sua obra; a Consciência Vazia, o seu sétimo dia. E no desempenhar deste sacro-ofício, alguns deles são mais elevados e sublimes que outros. Contudo, todos tem o seu público, conforme os respectivos níveis de consciência e de realidades condicionadas por estes. 

Portanto, no processo humano de autoconhecimento recíproco, subsistirá sempre o calcanhar de aquiles do verdadeiro Artista: a exposição, que é muitas vezes heroica. Por outro viés, a transparência em suas exposições transfigura-se em um ponto fixo seguro para o leitor que busca encontrar um coração naquilo que lê! Um coração sincero e destemido, bendito, sacralizado... Assim, eventualmente, haverá espaço vazio suficiente para uma sutil e inominável concórdia que, por ser um instante divino, melhor poderá ser sugerida nua Poesia!






A verdeira arte é rara porque não contém personalidade. Ela funciona como um espelho ou, em termos mais líquidos e naturais, como uma cebola. Quanto mais culto o leitor, mais próximo estará do centro. Quanto mais polido, menos camadas. E se ele estiver vazio, dela extrairá silêncio.
__Glauber Medeiros Rezende



"A verdade é o melhor de todos os dons."
__Dhammapada

"Se minha devoção se esgotar, 
o que me conduzirá à margem oposta?"
__Kabir



"
Os livros que o mundo chama de imorais são aqueles que apresentam ao mundo as vergonhas de sua própria existência. (...) Um artista, meu caro senhor, não possui afinidade ética com tudo. A virtude e a fraqueza são para ele simplesmente o que as cores de uma paleta são para um pintor. (...) O crítico deve educar o público. Mas o artista deve educar o crítico. (...) Revelar a arte, ocultando o artista, é o objetivo da arte."
__Oscal Wilde em "O Retrato de Dorian Grey".









O AMOR DOS SUFI

"Se me inclino diante dela como é do meu dever
E se ela nunca retribui a minha saudação
Terei, acaso, um justo motivo de queixa?
A mulher formosa a nada é obrigada."
__Ibn El-Arabi (1165-1240), o maior poeta do Sufismo.

"Sabemos, hoje, que o organismo humano abriga uma espécie de casa-de-força das emoções, o id, produtor de dois tipos de energia psicológica, a libido e a mortido. A primeira conduz ao amor, ao afeto, ao impulso sexual e à cooperatividade; a segunda gera o ódio, a agressão e o divisionismo. 

(...) É tentador chamar-se de positiva e negativa a essas duas formas de energia, tal como se fossem Yang e Yin.

(...) Bem, a libido e a mortido podem atuar tanto para fora como para dentro. Se a libido se dirige para dentro, atingimos o narcisismo e os estados hipocondríacos; se é a mortido que vai para dentro, atinge-se o ceticismo e o masoquismo, que contrastam com o sadismo na direção oposta.

No espírito humano, o ego, é o elemento organizador, ele tenta, por assim dizer, operar os controles e às vezes falha. E os ideais que tem 'em mente', para usarmos uma expressão comum (e que talvez sejam falsos ideais), estão englobados no termo superego. A função de nossa religião, portanto, e talvez a de todas as religiões mais elevadas, é estimular a libido para fora e a mortido para dentro, sujeitas ambas, sempre, ao controle racional que previne contra afetos desmedidos e as mortificações injustificadas. 

É bem fácil percebermos como esses dois impulsos se desenvolvem em sua evolução, pois o primeiro deles, a libido, estava obviamente vinculado à propagação da espécie, enquanto o segundo, a mortido, destinava-se à preservação da vida do indivíduo. Se Jesus era humano, também possuía todas essas engrenagens.

Quando pensamos nesses termos podemos melhor compreender as manifestações da vida emocional. Se a libido não estiver controlada pelo ego e pelo superego, ela parte, gloriosa e terrível, 'qual exército de bandeiras desfraldadas' (Cânticos 6, 4), na direção dos outros seres humanos.

O indivíduo, portanto, terá de aprender algo bem mais difícil que o amor recompensado, isto é, terá de aprender a praticar o amor sem nutrir esperança ou expectativas de retorno, uma prática talvez necessária a muitas situações humanas, uma prática que se assemelha, com certeza, ao amor de Jesus pelos homens e mulheres, e que pode servir de trampolim para o amor a Deus."

__Joseph Needham, Palestra para a Capela do Caius College em um Domingo de Pentecostes, 1976, in O TAOÍSMO DO AMOR E DO SEXO, de Jolan Chang, Editora Atenova, 1979, p. 168-169.


















segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

UNE VERSUS O CULTO





POETIZADOR
O que eu faço melhor?
Escrever 
Se é belo ou nada
Não é o tempo que dirá

SINESTESIA
O que é Poesia?
c-oração
coro-ação
Uma pintura de cor-oração

Pintura: SANTIAGO EM ORAÇÃO, 1661
Autor: Rembrandt, 1606-1669



NA FRONTE DO SER
Ó iniciado, assume aquilo que é teu
Não digas do outro; diz "sim, sou eu!"
Colhe o eco e terás o Cetro do Poder
Apenas dominando o módulo de ver





A REFLEXÃO DE NARCISO
A visão sincrética de sujeito-objeto
Deu-lhe o conhecimento hermético:
Ele era o único autor de sua condição
O externo é eco do interior: projeção

Dessa experiência surgiram dons:
Ver os outros como reflexos bons
Pensar, sentir, falar em belo tom
E fazer Silêncio em meio ao som

Pintura: NARCISO, 1597-1599
Autor: Caravaggio, 1571-1610



A MATRIZ DA LIBERDADE 
Ó iniciado, anseias por liberdade 
E não sabes: ela é apenas a flor
Mantida pela raiz desse primor:
A busca solitária pela Verdade
                 
Mergulha fluindo no desconhecido
Queima teu corpo, mente e espírito 
Aceita teu sepulcro, faz a tua lápide
Logo, de verdade colherás liberdade




MINISTÉRIO DA  MORTE
Ó iniciado, aceitai vossas mortes
Elas remirão medos, ansiedades
E, então, não mais descereis
Eis o mistério da verdadeira Vida.




As três fotos acima se referem ao 
ritual Samurai de Seppuku ou Harakiri.




DAS STARS SUFIS  

Estar no mundo, sem ser dele
Estar no corpo, sem pertencer 
Estar em Amor
Ser do Amor

Entre opostos, rodopia
Ó dançarino do atrito
E, em si, prepara a vela
Navegante em Chamas




A CHAVE
Para receber Amor
vivas em aberturas
Para sair o ódio 
 morras sem fechaduras



Só flor toda desabotoada

Colhe calor-luz do Sol
Faz de si bendito farol
louvando tudo por nada



O CULTIVO
A semente na terra guardara
seu fogo quisera água, preces
e tempo e tempo e mais nada 
para de repente romper ares





FILIAÇÃO


A verdadeira Arte nasce do Coração 
A sua lógica e razão é a mesma do Sol





OS ARTÍFICES DE SI - UM FAROL
Em face de um dilúvio fatal, 
descobre-se 
a importância de aprender a nadar 
e construir navios.




A BARCA DA POESIA 
O Som foi aprisionado em uma pequena caixa 
e todas as suas palavras se tornaram escravas 

Então, seu Pai, compadecido, enviou-lhe a Poesia 
Ela sabia liberar o Verbo, pois era filha do Silêncio 
E nela estava o mapa da espiral humana 
que pode despedaçar jaulas e fulminar dédalos 

Comerciantes fingiam ter poesia e ciência 
Mas, só homens raros viveram fábulas
e esses eram o Povo do Caminho 
O resto morreu na onda da contramão 
  
No fim, os que sentiram um visco no olho,
viram um lampejo no cativeiro secular térreo
 E, ao chamado da real Poesia, embarcaram...





A CURA DO CEGO
A sombra ainda não é
Tudo é Luz




MANTRA-ORAÇÃO
O que o Universo quiser ensinar 
ou em mim despertar
Agradeço





LÁPIDE
Pelo que o Universo me despertara
Gratidão





PRIMEIRA PERGUNTA
Quando fizera a pergunta essencial
Perdera a língua
Quando buscara a pergunta essencial
O mundo sumira



CSEM PROVAS
Quando as provas da razão abundavam
Nada sabia
Quando não existia razão
Experimentara






A SABEDORIA
O inferior, sendo reflexo,
jamais fere o Superior
e só serve



ARGONAUTAS
Os Navegadores se adaptam,
em qualquer matéria de onda,
acima da rebentação tétrea
como sufixos triangulares






UNS
Se
Um
Faz 
Inúmeros

Se
Um
Fomenta
Inomináveis

Se
Uns 
Folheiam
Internamente
Saberão
União
Faz
1





PREFIXOS TRIANGULARES
Saiba
Ungir
Fendas
Invisíveis






ESPIRAL DOURADA
Uma alta montanha
terás de subir
e do caminho
colherás compreensão


No fim da espiral
tu despertarás
todas as galáxias
confinadas em ti





 
UM NOVO PARTO
Um corte, a sombra (re)clama
Vem da Luz, uma lâmina
E toda dor do inferior
Eleva-o até o superior

Toda ilusão do não-ser
Permanece em lamentos
Até que em si mesmo gere
O Condutor de seus intentos
Foto de Fernando Marinho.





ASSEMELHAÇÃO

Se vós desejais ir para o céu,
Tende a coragem de um Deus:
Descei no fundo do inferno
Agindo como num belo passeio




A PONTE NO QUARTO

Ó solitário, está certo
O Trespasse da ilusão
Demanda um cetro
Enfeixado no coração

És, sim, espelho, ó Anahat
Só a trêmula sombra
Que se vê em ti
Vive