terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

O AMOR DOS SUFI

"Se me inclino diante dela como é do meu dever
E se ela nunca retribui a minha saudação
Terei, acaso, um justo motivo de queixa?
A mulher formosa a nada é obrigada."
__Ibn El-Arabi (1165-1240), o maior poeta do Sufismo.

"Sabemos, hoje, que o organismo humano abriga uma espécie de casa-de-força das emoções, o id, produtor de dois tipos de energia psicológica, a libido e a mortido. A primeira conduz ao amor, ao afeto, ao impulso sexual e à cooperatividade; a segunda gera o ódio, a agressão e o divisionismo. 

(...) É tentador chamar-se de positiva e negativa a essas duas formas de energia, tal como se fossem Yang e Yin.

(...) Bem, a libido e a mortido podem atuar tanto para fora como para dentro. Se a libido se dirige para dentro, atingimos o narcisismo e os estados hipocondríacos; se é a mortido que vai para dentro, atinge-se o ceticismo e o masoquismo, que contrastam com o sadismo na direção oposta.

No espírito humano, o ego, é o elemento organizador, ele tenta, por assim dizer, operar os controles e às vezes falha. E os ideais que tem 'em mente', para usarmos uma expressão comum (e que talvez sejam falsos ideais), estão englobados no termo superego. A função de nossa religião, portanto, e talvez a de todas as religiões mais elevadas, é estimular a libido para fora e a mortido para dentro, sujeitas ambas, sempre, ao controle racional que previne contra afetos desmedidos e as mortificações injustificadas. 

É bem fácil percebermos como esses dois impulsos se desenvolvem em sua evolução, pois o primeiro deles, a libido, estava obviamente vinculado à propagação da espécie, enquanto o segundo, a mortido, destinava-se à preservação da vida do indivíduo. Se Jesus era humano, também possuía todas essas engrenagens.

Quando pensamos nesses termos podemos melhor compreender as manifestações da vida emocional. Se a libido não estiver controlada pelo ego e pelo superego, ela parte, gloriosa e terrível, 'qual exército de bandeiras desfraldadas' (Cânticos 6, 4), na direção dos outros seres humanos.

O indivíduo, portanto, terá de aprender algo bem mais difícil que o amor recompensado, isto é, terá de aprender a praticar o amor sem nutrir esperança ou expectativas de retorno, uma prática talvez necessária a muitas situações humanas, uma prática que se assemelha, com certeza, ao amor de Jesus pelos homens e mulheres, e que pode servir de trampolim para o amor a Deus."

__Joseph Needham, Palestra para a Capela do Caius College em um Domingo de Pentecostes, 1976, in O TAOÍSMO DO AMOR E DO SEXO, de Jolan Chang, Editora Atenova, 1979, p. 168-169.


















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